sexta-feira, 24 de julho de 2020

A aposta errada de Sérgio Moro

Rafael Marchante/Reuters

O famoso e patético vídeo da reunião ministerial de 22 de abril deste ano tornou-se um verdadeiro fantasma que assombrou e assombra muita gente, inclusive seu próprio detonador, o ex-ministro Sérgio Moro.

Além dos estragos contra o próprio Bolsonaro, que pode vir a responder por desvio de finalidade e obstrução de justiça, o vídeo teve o condão de derrubar um de seus ministros – o da Educação – e colocar outro na corda bamba – o do Meio Ambiente.

Porém, o principal prejudicado pode ser o próprio Moro.

Isso porque o ex-juiz já acredita que o Procurador Geral da República, Augusto Aras, irá concluir a apuração sem fazer imputação alguma a Bolsonaro. Caso isso aconteça, o ex-juiz corre o risco de responder por denunciação caluniosa contra o presidente.

Sabendo-se que o procurador-geral é praticamente um amigo do peito de Bolsonaro, e no Brasil muitas vezes os valores são invertidos, não é difícil que isso aconteça, e Aras acabe livrando a cara do seu padroeiro depois que toda a encenação do processo da interferência na PF terminar.

Assim é a vida. Quem se apavora, às vezes, se arrebenta. E, como dizia minha avó: “Quem se mete com porcos, farelos come”.

Que isso sirva de lição para Moro, que abriu mão de uma carreira consagrada como o juiz que mais combateu a corrupção no país (essa é a percepção da grande maioria da população), para embrenhar-se numa aventura leviana de um louco do baixo clero parlamentar, político profissional e com reconhecida vocação autoritária, inconsequente e conservadora, no pior sentido da palavra, chamado Jair Bolsonaro.

A aposta errada de Moro o levou, além de abrir mão de sua carreira jurídica bem-sucedida, a comprometer boa parte de sua popularidade, ao contaminar-se com o jogo sujo da velha política, suportando por longos meses as veleidades do chefe até não aguentar mais. Ao final, não agradou ninguém, nem aos eleitores bolsonaristas – que o veem como um traidor –, muito menos à esquerda, para quem ele não passa de um ex-magistrado oportunista a serviço da direita.

Talvez os eleitores de centro e os eternos esperançosos ainda o acolham e lhe deem algum voto de confiança em 2022. Mas para isso, ele precisa ao menos sair no zero a zero dessa peleja com Bolsonaro, e logo depois sair do isolamento político em que se encontra buscando construir uma terceira via em torno de si. Ou do que restar de si depois dessa frustrada aventura.

Caso não consiga empreender essa agenda, será um mito quebrado a mais na história nacional, uma espécie de Eneas, menos excêntrico e mais bonitinho e simpático.

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