sábado, 20 de junho de 2020

Crônica da Semana: Sem choro


Em primeiro lugar, eu não gosto de me alegrar com a desgraça alheia. Também me causa comoção ver um homem chorando, principalmente quando se trata de pai de família. Nunca gostei.

Agora voltando ao assunto desta minicrônica, estava lendo na internet que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, chorou copiosamente quando deparou-se com a cela de seis metros quadrados que passou a ocupar no presídio de Bangu 8, no Rio de Janeiro, por tempo indeterminado.

Me comoveu mais saber que a primeira pessoa para quem ele ligou foi para uma de suas filhas, mandando avisar sobre o acontecido. Eu tenho uma filha, e imagino muito bem o que é para uma filha receber uma notícia trágica sobre o pai.

Eu sei fosse seu pai, filho, ex-professor ou amigo, diria-lhe duas coisas, antes do leite derramado, é claro: primeiro que o crime não compensa; pode até compensar temporariamente, enquanto a alegria passageira pelo desfrute do objeto do crime durar, o que normalmente não ocorre quando se trata de “peixe pequeno”. Normalmente são os grandes criminosos que conseguem safar-se para desfrutar do produto de sua ação criminosa por um tempo suficiente para fazer compensar o risco de ser criminoso. Mesmo para esses, lembra-me Sócrates, que sua “alegria” não passa de uma farsa, pois lá no fundinho de sua alma sabem que não estão fazendo o que é certo. E mesmo que sufocado ou disfarçado esse remorso, que eu chamaria de universal, estará lá dentro, incomodando de alguma forma. Há outros que têm que conviver com a imagem de corrupto pela vida toda, algo que também não creio contribuir para uma felicidade plena.

O segundo conselho seria: “A corda arrebenta sempre para o lado mais fraco”. Sempre foi assim, com raras exceções, algumas ocorridas durante a Operação Lava-Jato, quando tivemos o principal empreiteiro do país, Marcelo Odebrecht, encarcerado durante dois anos e meio (agora cumprindo prisão domiciliar, por ter feito delação premiada).

Portanto, puxa-saco que acredita que o patrão dará sua cabeça por ele por conta dos favores oferecidos no passado está muito enganado. Na hora do pega-pa-capá, aos serviçais, resta a cozinha; ou neste caso, a cadeia. Sempre quem resta ali, solidária, é a família, a única que a quase tudo perdoa.

Finalizo com o ditado de um amigo meu jornalista da velha guarda: “Galinha que acompanha pato morre afogada”. Infelizmente, na maioria das vezes, a ficha sempre cai depois que a casa já está no chão e o leite já está derramado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário