quinta-feira, 16 de julho de 2020

O currículo e as ideias do novo ministro da Educação

Foto: Divulgação.
Depois do vexame nacional ocorrido com a descoberta do currículo fraudado do último ministro da Educação do governo Bolsonaro, Carlos Decotelli, a nação vai conhecer seu quarto ministro neste governo em pouco mais de um ano meio, e depois de ter um economista insano metido a ideólogo, que praticamente saiu escorraçado do país depois de tanta lambança e alguns crimes à frente da pasta.

O quadro é de uma pandemia ainda em alta, com escolas fechadas e o planejamento educacional do ano todo  afetado, e o Enem adiado para o início de 2021.

De fato, quase nada foi feito até aqui. Além disso, decisões importantes, como a implementação do Plano Nacional de Educação, aprovado em 2014, renovação do Fundeb, reforma do Ensino Médio e implementação na nova Base Nacional Curricular, precisam ser tomadas com urgência e por alguém que tenha algum conhecimento de causa.

Milton Ribeiro tem 62 anos, nasceu em Santos, no litoral de São Paulo. De acordo com seu currículo na plataforma Lattes, Ribeiro é graduado em Teologia e Direito, tem mestrado em Direito pela Universidade Mackenzie e doutorado em Educação pela USP (Universidade de São Paulo). O novo ministro foi vice-reitor da Universidade Mackenzie.

Atualmente, é membro do conselho deliberativo do Instituto Presbiteriano Mackenzie, entidade mantenedora da universidade. Ele também é pastor da Igreja Presbiteriana de Santos, litoral de São Paulo.

Ribeiro integra a Comissão de Ética Pública da Presidência da República desde maio de 2019, quando foi nomeado ao cargo por Bolsonaro. Ele foi a primeira escolha da atual gestão presidencial. Em janeiro de 2020, votou a favor do arquivamento do caso que apurava a suspeita de conflito de interesse envolvendo Fabio Wajngarten, chefe da Secretaria de Comunicação Social do Planalto. A empresa de Wajngarten mantinha contratos com agências e TVs que, por sua vez, recebiam dinheiro do governo, inclusive da pasta que ele comanda.

Aguiar defende o que chama de ensino do “design inteligente”, perspectiva teológica sobre a origem das espécies que tenta criar um falso contraponto com a Teoria da Evolução. De acordo com essa visão sem comprovação científica, a vida no universo seria obra de um “ser inteligente e superior”, numa nova roupagem do criacionismo. 

Em vídeo postado há 4 anos pela Igreja Presbiteriana Jardim de Oração, em que ele fala à comunidade evangélica sobre a "vara da disciplina" e a importância de disciplinar as crianças, afirmou: 

"A correção é necessária para a cura", disse o pastor. "Não vai ser obtido por meios justos e métodos suaves. Talvez uma porcentagem muito pequena de criança, precoce e superdotada, é que vai entender o seu argumento. Deve haver rigor, severidade. E vou dar um passo a mais, talvez algumas mães até fiquem com raiva de mim: deve sentir dor."

A proposta é tentadora. Mas é consenso entre os educadores que este caminho já foi superado há tempos pelas melhores teorias educacionais. Qualquer estudante de pedagogia, psicologia ou licenciatura sabe disso.

Já em um culto de sua igreja, Ribeiro externou sua postura machista com raízes no Velho Testamento, ao defender que é o homem o responsável por "impor a direção que a família vai tomar":

“Quando o pai não está em casa, o inimigo ataca. Quando o pai não impõe. Impõe! Essa é a palavra. Me desculpe, é a palavra usada. Impõe a direção que a família vai tomar, não é que ele é o mandatário, que sabe tudo não. Mas ele, o pai, o homem dentro de uma casa, segundo a bíblia, o cabeça do lar. Ele que aponta o caminho que a família vai”.

Não é à toa que o novo ministro tem especialização em Velho Testamento, pelo Centro Teológico Andrew Jumper e em Teologia do Velho Testamento pelo próprio Instituto Mackenzie.

Parece tratar-se de mais um quadro "terrivelmente evangélico", como gosta de alcunhar o presidente.

Se vai conseguir fazer algum coisa, todos esperamos que sim, afinal, trata-se do futuro de nosso filhos. Mas uma coisa é certa, trata-se de um nome totalmente alinhado com a "ideologia" bolsonarista. Também é fato que se trata de alguém que não tem nenhuma experiência na área de políticas públicas educacionais, além de ter atuado como vice-reitor em uma universidade particular.

Uma pena, pois nosso país está cheio de educadores comprometidos, profissionais tecnicamente especializados e experientes na área da gestão educacional pública, que poderiam dar continuidade a tudo que já foi construído e acumulado na área.

Só nos resta mesmo rezar.

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