sexta-feira, 24 de julho de 2020

Pau que dá em Chico bate mesmo em Francisco?

Diz o ditado que pau que dá em Chico dá em Francisco. Com essa singela metáfora quer dizer a sabedoria popular que a justiça não pode aceitar dois pesos e duas medidas. Ou seja, não pode ser injusta, usando uma punição para um lado e outra punição para o outro.

Mas será que esse ditado se aplica na política?

A história começa a desenrolar-se, mostrando que não. 

Ultimamente os tucanos estão na mira do Ministério Público e da Polícia Federal. Dois dos principais caciques do PSDB – José Serra e Geraldo Alckmin – estão tendo seus podres revelados pelas autoridades e têm sido objetos de megaoperações policiais.


Contra Alckmin pesam acusações de falsidade ideológica eleitoral, caixa dois, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O MP paulista afirma que o tucano recebeu 11,3 milhões de reais da empreiteira Odebrecht nas eleições de 2010 e 2014. 

Contra Serra, são outros tantos milhões desviados em esquema similar. 

Há alguns anos atrás operações idênticas acometeram os petistas, tanto na qualidade quanto na quantidade das acusações. A diferença é que eles estavam praticamente sozinhos à frente da nação.

Como diz-se que os dois grupos revezaram-se no comando da moderna república brasileira, é aceitável que a responsabilidade por tudo de bom e de ruim que acontece no Brasil foi de responsabilidade dos dois grupos.

A questão a que quero chegar é a seguinte: e se todas essas denúncias envolvendo os tucanos tivessem ocorrido simultaneamente às denúncias dos esquemas do Mensalão e Petrolão, será que o PT teria entrado para o folclore político nacional como “partido da corrupção”? A ex-presidente Dilma Roussef teria sofrido impeachment sem cometer um crime que realmente o justificasse, já que, passados quatro anos de seu impedimento, nenhuma denúncia de corrupção contra ela se sustentou? As chamadas “pedaladas fiscais” por si só seriam suficientes para derrubá-la, sem um empurrãozinho dos oportunistas?


Políticos do Centrão comemoram o impeachment de Dilma Roussef
Creio que a resposta é não.

Portanto, voltando ao ditado inicial, nem sempre o pau que dá em Chico, bate em Francisco. Isso porque, hoje, os tucanos não têm um décimo a perder do que os petistas perderam, ao pagarem a conta da corrupção praticamente sozinhos e com o sacrifício de sua histórica legenda, pra lá de desbotada depois de todo esse furacão.

Imagine como ficará a cabeça do eleitor mediano depois que os esquemas de corrupção de Bolsonaro e seus aliados começarem a se confirmar, como já começa a acontecer com o laranjal do PSL (de onde Bolsonaro vazou rapidinho), com o governador Wilson Witzel, ex-aliado de Bolsonaro, e com o próprio filho, Flávio, acusado de enriquecimento ilícito?

Eu espero que o chamado Zé Povinho acredite ao menos numa coisa: Não há um partido dono da corrupção e nem um partido imune à corrupção. Isso porque a corrupção não ocorre no partido, ela ocorre no coração e na alma de seres humanos e é favorecida por sistemas políticos, econômicos e culturais viciados como o nosso.

O resto é pura hipocrisia. É o mito do chamado “cidadão de bem”. Aquele que adora acusar, mas detesta ser acusado. Que vê o cisco no olho do próximo, mas não quer enxergar a trave no seu próprio olho.

Como o filho mauricinho e a filha patricinha do prefeito que adotam o discurso moralista de Bolsonaro, mas que se cadastram para receber o auxílio emergencial de 600 reais, roubando a oportunidade dos quem realmente precisam.

Talvez se as denúncias dos esquemas tucanos ocorressem há cinco, seis anos atrás, o golpe contra a Dilma não tivesse contado com tanto apoio da opinião pública e não passasse apenas de uma tentativa golpista de um grupo de políticos profissionais com a cumplicidade da grande imprensa. (Abaixo vídeo da campanha peemedebista intitulada A verdade é sempre a melhor escolha, com a qual o partido articulava o golpe contra sua ex-aliada, Dilma Roussef).



Aqui não estou defendendo que a corrupção seja tolerada, banalizada ou relativizada. Ao contrário, ela deve ser energica e exemplarmentemente combatida, sempre de forma justa e com o direito ao contraditório e à ampla defesa.


Porém, o pau da justiça e da moralidade não pode bater em Chico e aliviar as costas de Francisco.


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